segunda-feira, 11 de maio de 2015


Seguro nas tuas mãos com medo de as perder para sempre. Encontro nas suas linhas, no toque suave que percorre o meu corpo, caminho para os meus beijos, abrigo para os meus sonhos e solidão para o meu peito deserto. Por isso seguro-as, tenho medo, entristece-me de morte não as reconhecer neste opaco sentimento vazio, e, com receio, coso-as como quem cose dois corações para ficar – para sempre – (a minha e a tua) unidas eternamente.
Guardo o teu olhar, aquele perdido mistério das noites, porque um dia acredito que poderei aprender o trajecto dos teus lábios, o fio dos teus cabelos e a doçura da tua boca. E, se nunca encontrar as tuas promessas ou as minhas ambições sei – com toda a certeza – que o teu olhar tímido, as tuas mãos singelas, os teus lábios como pétalas vermelhas e o teu sorriso escondido nas estrelas é o mistério do nosso amor oculto. Por isso, escuto-te no silêncio quando sussurras-me ao ouvido para não ter receio. E eu já não tenho medo. Nem dúvidas, nem desconfiança de te perder; porque sei, sem o saber, que isso nunca acontecerá; porque um dia, para toda a eternidade, tornaste-te minha.


quarta-feira, 4 de março de 2015


Encontro-te em cada estrada que percorro na noite deserta. Consigo identificar, em cada espaço vazio, a tua presença. Cada caminho é o nosso caminho que se constrói – sem nos darmos conta – como uma complexa teia incorpórea de sentimentos que um dia – talvez quem o saiba – nos vamos encontrar verdadeiramente. Se queres saber; Não sei para onde caminho. Sei que o meu coração desta vez guiar-me-á para ti. Ou mesmo não o saiba, mas sinto. Não foste tu que me acusaste de insensível? Serei agora – ouve-me – aquele que te procura com o coração. Aquele que, no seu estado profundo de loucura, amar-te-á sem reservas. Provavelmente estas palavras nunca chegaram ao seu destino; quiçá – e isto é apenas uma suposição da minha parte – eu nunca te encontre; todavia não desistirei de procurar. Porque, afinal de contas, és tu que vais-me encontrar. É estranho mas a procura é feita da descoberta e a descoberta acha-se no outro. E o amor encontra-se quando se descobre que o outro é único. Ama-se verdadeiramente pela unicidade da outra pessoa. Não encontro outra razão para o amor verdadeiro.
Já reparaste na Lua? Ri-te. Observa-a. Acho que nela encontro o teu sorriso. Aquele sorriso envergonhado e tímido que me fazias quando eu te chamava, descaradamente, bonita. Quando, na tua desconfiança, eu dizia que te amava mais que as palavras que te entregava. Porque, acima de tudo, o nosso amor; o amor verdadeiro e sincero que vivíamos não se podia descrever em tão poucas palavras que carecem sempre de um significado que só o amor conhece. Já viste a Lua? Diz-me ao ouvido, como uma promessa, como um beijo que tanto aguardo, se nela não encontras o teu sorriso. Agora peço-te que vejas a noite, as estrelas. Se observares com cuidado vais encontrar cada palavra que te entrego: saudade, amor, carinho e felicidade. Quero que adormeças com as minhas palavras e que amanhã, deitada na cama, quando abrires os olhos me encontres chegado à tua espera.   


terça-feira, 3 de março de 2015

Loucura


Era louco se de loucura padecia
Por querer beijar
 – Provar –
Os teus lábios de rosas
Encarnadas
Que em meus sonhos encontram abrigo.
Mas de loucura a alma ferve
Quando a tua imagem, na ilusão, se desvanecia.

O teu toque nos meus ombros ainda permanece
Como uma mensagem esquecida.
Na glória da noite fria
Eram os teus lábios
– Aqueles que ofereceste –
(Com o teu peito)
Que me aquecia.
 
Agora estou cansado
E tudo é passageiro como luzes da noite.
Guardo, na minha loucura lúcida, tudo o que és.
O meu desejo.
A minha salvação.
O meu único arrependimento.
E amo-te assim:
Na minha loucura.

Digamos, então, que sou louco.
Louco por te amar.
Louco por te ter.
Louco por te beijar.
Louco para, em ti, poder
– o meu coração –
Abrigar.

Singular beleza em teu sorriso mora
Como uma pena a voar.
Porque por muito que o procure
Está longínquo demais para achar.

Arde em meu peito
A loucura de te achar.
Acho-te na noite; encontro-te nas estrelas.
Para por mim velar.

Se em loucura te amo.
Em loucura vou continuar.
Porque talvez um dia
A loucura me vá encontrar.
 
 
 

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015


Lê baixinho estas palavras e guarda-as em teu coração como quem guarda uma promessa. Todas elas, sem excepção, estão há muito tempo também guardadas no meu. Quero – se isto é possível – que as mesmas palavras que estão recolhidas em meu peito passem a estar no teu também. Desejo – mais do que qualquer outra coisa neste momento – que amemos com palavras, pois são elas o único meio – agora – em que nos podemos amar. Quero amar-te nelas, amar-te por elas, amar-te com elas. É nas palavras, meu amor, que posso afinal e somente amar-te como quero. Afinal de contas, de outra forma amar-te é um erro. E os erros, na nossa vida,  – por muito que não queiramos – pagam-se com o sangue que mora escondido no nosso peito. Por isso, dir-te-ei agora, sem medo, amo-te com estas palavras que te oferto.
Amo o teu sorriso discreto e inocente mas que ao mesmo tempo carrega uma malícia escondida. Amo os teus misteriosos olhos como estrelas em que neles moram a tua beleza. Amo os teus lábios, esses tecidos vermelhos de volúpia, que famintos eu os quero só para mim. Amo o cheiro, o toque suave, a delicadeza das tuas mãos quando percorria o meu umbigo nas sonolentas manhãs de Verão. Amo o sentir e o conhecer, o percorrer, a aventura que era sobre os fios dos teus cabelos e o seu caminho. Amo o teu corpo. Esse mistério indecifrável perdido que tento encontrar – a cada momento – nas minhas palavras. Amo-te em palavras e por muito estranho que isto pareça, sei que era errado amar-te de outra forma.
Vais estar longe, eu sei amor, quando leres as palavras que te ofereço. Elas são tuas, mas mais importante do que as palavras é o que quero de ti. Quero que – em cada palavra que te escrevo – encontres uma recordação, um sorriso, um toque, beijo, piada sem sentido, da minha presença. O amor fez-nos longe; o amor fez-nos perder o sentido da nossa casa, mas uma coisa é certa, o amor não nos fez esquecer quem amamos. Para sempre. Para toda a vida. Por isso ofereço, nas minhas palavras, o amor que nunca te pude oferecer, o verdadeiro, o sincero, o único, o Amor.
 
 
 
 
 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015


A casa estava deserta. Quando abri a porta compreendi isso mesmo. Não existia vivalma naquela casa onde outrora fôramos felizes. Era de noite. Pequenas sombras revelavam-se sobre as opacas janelas de madeira. Os móveis, de esquecidos que estavam, formavam uma pequena película – quase invisível aos olhos – de pó. Andei, pé ante pé, sobre os corredores que conhecia melhor do que a minha própria vida. Neles recordava a minha felicidade, ou melhor, a nossa felicidade; a insaciedade dos beijos, o calor dos abraços, a volúpia dos olhares, o toque faminto das nossas mãos à procura, sobre a seda, do caminho enigmático que morava em cada um. Por momentos deixei-me ser guiado pelo calor das recordações. Como que, aqueles corredores não me levassem ao meu destino, mas à guisa das recordações que estavam aferrolhadas no meu peito. Fui guiado nesta noite. Vi o teu rosto. Perdi-me nos corredores do teu esquecido corpo. Fui levado por ti e deixei-me ser conduzido por esta sensação estranha, mas incrivelmente calorosa. Estava louco. Lançava sorrisos carregados de lembranças. Em meus lábios pairavam a obscura imagem do que sobrou de uma recordação.   
Atravessei um longo período de obscuridade, troquei várias vezes – sem me dar conta – a realidade pela ficção.  Pode-se mesmo dizer que fui tomado pela insanidade e ofusca luz do momento. Porém, por fim, regressei ao lugar que me pertence. Estava à minha espera. Deserto. Ansiava por companhia. Tinha vontade própria. Soube, a partir deste momento, que nada existe à minha volta sem ser esse lugar. Algo se construía nesse lugar. Algo que nunca vi. A paisagem nocturna adquiria a espessura, a subtil contradição, o encanto puro dos sonhos mágicos que nasciam no meu peito. Era algo invisível, incorpóreo, no entanto eu sentia. Algo – não sei ao certo o quê – estava a ser construído neste espaço. Pousei a lamparina na escrivaninha e apaguei-a com um leve sopro. Olhei para o nosso quarto. Tudo permanecia nos mesmos sítios que eu conhecia. Apenas faltavas tu.
Atirei-me para a cama fria. A noite envolvia o meu corpo em sombras e jogos de luzes. Estava exausto, para falar a verdade. Percorri durante horas à tua procura e, agora que encontro o nosso lugar, tu nele não habitas. Está deserto. Sem vida. Apenas nele moram as recordações, as memórias, as velharias e obsoletas vidas passadas, esquecidas. Ao fim de algum tempo, com os olhos enevoados de lágrimas, debrucei-me sobre a tua almofada. Era incrível como ainda conservava o perfume dos teus cabelos. Beijei-a e sussurrei para ela como estivesse a dirigir-te uma prece ao teu ouvido, «Regressa. Peço-te por tudo.» Por fim, deixando que o cansaço tomasse conta do meu corpo, deixei-me levar pelos caminhos que tanto ansiava.
Um beijo.
Bêbado de sonho, tolhido pelo medo, tentei falar.
- Não faças barulho. – ouvi a sua voz a sussurrar-me. – Dorme apenas. Eu estou contigo. Estarei sempre. Até que me encontres verdadeiramente. Agora dorme. Haverá tempo para uma próxima noite comigo. Até lá, eu estou e estarei na escuridão do seu retrato.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Esquecimento Tardio

Se pudesse apagava este fogo que crepita nos meus lábios.
Encerrava
– em silêncio –
A tua imagem no passado,
Como um quadro esquecido
Uma tela desfeita
Uma folha rasgada.

Numa arca fechada
O teu irónico sorriso
Aí permanecia para sempre.
Sem mágoa.
Sem tristeza.
Apenas esquecido
No mar escuro do teu peito.

Entregava-te apenas
 Uma mão vazia
Como uma brisa de vento
Que carrega a fúria do meu peito.
Daquele peito que nada se completa no teu.

Vi-te deserta.
(Hoje mesmo…)
Esquecida entre os escombros.
Sentada no teu sofrimento
Com olhar perdido
Sobre quem outrora amaste.
Sozinha.
Esquecida.
Perdida.
– Como eu te desejo! –
(Não te puxei para a margem)
A perdição em que te encontras
Culpa não é minha;
Somente tua.
Pois foste Tu que a criaste!


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015


Em minha casa ainda permanece o teu respirar. Os móveis, por muito pó que ganhem, por muito esquecidos que estejam, mesmo que permaneçam para a eternidade na inércia, é o toque das tuas suaves mãos que estão lacradas neles. O sofá, aquele sofá que repousavas a tua cabeça, está vazio, no entanto, é o teu perfume – de camomila – que está lá a marcar a tua presença. A cama deserta, fria, continua com os lençóis do cheiro do teu dormir, do teu sonhar. A janela, aquela pequena passagem para a noite, continua à tua espera com a mesma ansiedade que a caracteriza. Talvez estejas longe, mas por muito longínqua que estejas, a tua presença é incapaz de desaparecer da minha casa. Cada espaço é teu. Cada abrigo que criavas com o teu peito permanece ainda na esperança que voltes. – Um dia talvez -, penso eu. – Um dia talvez voltes, carregada, pesada, e, em teus ombros carregues o mistério da vida, aquele mistério que mora nas estrelas do céu que são iguais a teus olhos. E durmas, abraçada, recolhida em meu peito, e me sussurres promessas aos meus ouvidos: guarda-me. Protege-me. Lá fora o mundo é cruel. Feio. E perverso. Só o amor mora em ti. Em teu peito. Guarda-me. Recolhe-me. Abraça-me. Sabes, neste abraço, meu amor, ninguém nos pode separar, nem mesmo a morte. Porque, afinal de contas, a minha vontade, a tua vontade, a nossa vontade, é mais forte que todas as vontades juntas. Neste abraço que agora estamos, somos e seremos – para sempre – um só.