Eu sempre fui uma
sombra do que quis ser. Mera cinza apenas de ideias que o pensamento utopiza e
que na realidade não passa de isso; de sonhos distantes e dispersos em névoas
ilusórias da imaginação fictícia. Quais estradas nunca antes caminhadas meu
desejo purga. Nada sou. Apenas um sonhador atormentado pelo cansaço e o tédio
da solidão.
Caminho na estrada da
rua deserta, absorto em meus pensamentos. Ouço nos sons díspares pequenos
timbres de melancolia e assobios leves de arrependimento. Minhas gélidas mãos
carregam em seus dedos ambições que outrora desconhecia. Estou aprisionado
nesta liberdade cativa que beija a minha Alma. Sou isto: um homem livre que
deseja estar preso.
“Coragem!” Ouço em
meus ouvidos a voz da musa que desconheço mas meu coração ama. Levanto os olhos
em sua procura, porém apenas vejo as estrelas pequenas a baloiçar no céu escuro
que cobre meus olhos. Caminho rápido agora, pois sei que te posso alcançar e
ouço novamente as mesmas palavras adocicadas a sair da tua voz: “Coragem!”
Agora corro, como uma
criança feliz, na espectativa que te vou encontrar. Chego à porta que ouvira as
vozes de alento dirigidas ao meu coração. A medo, abro a porta e para meu
espanto e desanimo apenas uma imagem tua lá se encontra. Cabisbaixo vou-me
embora, mas antes ouço em meus ouvidos como súplicas amorosas as palavras que
alegraram meu peito: “Coragem, eu estou sempre contigo…”
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