Os meus pensamentos
são como uma mágoa que quero esquecer; e mesmo que não os esqueça sinto-os perdidos
para sempre numa ilusão. Esses meus pensamentos são semelhantes a um rio calmo
na superfície onde no fundo os mais revoltosos mistérios carrega. Dispersos. Frenéticos.
Remexidos. Calcados pela angústia de uma palavra. Bailam como estrelas na
escuridão da minha alma. Como os quero esquecer, mas eles são como uma mágoa
doentia que não me largam.
Os meus pensamentos
são como raízes que nasceram antes de eu nascer e que agora recusam-se a
abandonar o meu corpo. Todo o esforço é inglório. Toda a tentativa é
fracassada. Tudo o que sou é um erro e todos os pensamentos são doentios. Se um
dia souber como se apaga a memória, quero, sem hesitações, apagar tudo o que me
constituiu. Esquecer tudo o que me forma. Sei que irei, com esta acção, apagar
tudo o que formei e todas as coisas que conheci. Mas odeio todos os traços do
meu corpo e preciso de mudar. Na vida, nada é perfeito. Desde cedo o soube.
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