A verdade não dói. Dói conseguir aceitar as suas
consequências. Aceitar as suas culpas. Entender que estávamos no caminho
errado, parar de caminhar e escolher o desafio que compromete mais riscos: obedecer
a uma loucura de um caminho ignoto. Andar por calçadas desconhecidas, trocar os
sorrisos com pessoas que jamais vimos, observar árvores que até então era
impossível aos nossos olhos e celebrar o torpor do medo do desconhecido.
Na vida – como eu a entendo – era mais fácil viver
sobre as réstias de uma ilusão esquecida. Sobreviver – nem que seja um bocado
de nada – assente sobre um sonho que a nossa imaginação cria. A verdade mata,
mutila, fere tudo o que um dia criamos na vã esperança que podemos ser felizes.
No entanto, como essa felicidade é ilusória, um dia – sem que contemos com isso
– vai ser corroída pela verdade. E a verdade não perdoa. Anda em bicos de pé,
como um hábil assassino que espera pela vingança. Escondida. Expectante. Prudente.
Sem escrúpulos. E engana-se todo aquele que diz que está preparado para
aceitá-la.
Se pudesse – nem que fosse por breves momentos –
nunca faria o que irei fazer. Continuava a viver nesta ilusão tão fácil. Neste caminho
tão conhecido e conformista. Nesta felicidade corriqueira e criada pela
imaginação. Tudo seria tão fácil. Tão suave. Tão humano. O que seria – parei eu
para pensar – se continuasse assim eternamente?
Sacudindo do meu espírito aquilo que terá sido um
sonho, tomei uma decisão. Uma decisão bem mais realista. Bem mais humana. Mas,
por sinal, bem mais difícil. A verdade perscrutou o meu espírito. E é a verdade
que viverei. Não estou habituado a viver sobre este espaço – parece que me
falta o ar e que estou oprimido – mas, afinal, quem está habituado a viver a Verdade
e a aceitar as suas consequências para ser feliz?
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