Não sei como te amei. Surgiu, como um próprio acto
de magia, uma leve acendalha no meu coração; uma leve brisa singular que
tomou-me naquela sensação insuportável de um calor que consumia, como um
furação, o meu peito seco e frágil. Desenhei os teus olhos cristalinos de tal
maneira intensa que, na melancólica e pueril noite pura, era o teu olhar que
via a iluminar o quarto escuro em vez da Lua corriqueira. Pintei com tal
peculiar sensibilidade os teus lábios de seda finos que, a cada momento que os
recordava, com mais ardor os desejava provar ou, quiçá, finalmente ver aquele
sorriso tão sincero que reside no mais puro grau da beleza.
Não sei como te amei. – Mas amei-te, ai se não te
amei! – Tudo começou com frases parcas, olhares inocentes, sensações que, com o
tempo, se foram revelando mais fortes que a cobardia. Era esta franqueza que eu
amava! A tua mão. A tua mão macia e quente. A tua cabeça enrolada sobre o meu
peito. As minhas mãos a desenhar castelos nos teus suaves cabelos. As promessas
que ficavam gravadas no manuscrito dos nossos beijos. As palavras que foram
caladas sobre o peso do silêncio dos nossos corpos. O desejo que fundiu-se num
só. Duas existências que combinaram numa. Dois amores que ficaram num.
Não sei como te amei. – A verdade é que nunca amei
ninguém - E talvez seja errado ainda,
neste momento tão longínquo do nosso encontro, amar-te. Todavia, no meu mais
sincero desejo uma franqueza acompanha um pedido: nunca me deixes. É este o meu
desejo. Preciso de ti. Preciso de agarrar a tua mão a cada noite que sinto a
solidão a morar no meu peito. Preciso do teu sorriso tímido a cada nascer do
dia. Preciso de ti para contar cada palavra que te ofereço. Preciso de ti para
me amar. Preciso de ti para te amar. Preciso de ti para viver.
Não sei como te amei. Foi na mais profunda melancolia,
na mais sincera convicção, na mais perfeita loucura do pecado. Amei-te. Amo-te.
Amarei. Como uma promessa. Como um manuscrito. Como uma felicidade ingénua. Como
um sonho escondido. Como um caprichoso pecado. És o meu pecado. Que dizes em
pecarmos juntos? Aceitas esta promessa fugaz que é eterna?
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