Encontrei-a por mero
acaso. Perdido nos meus pensamentos, caminhava com os olhos pelas montras das
lojas e pelas pessoas que vagueavam frenéticas no horizonte do meu olhar. Foi aí.
Via-a. O meu olhar tocou no seu e reconheci-a. Era ela. Sem tirar nem por. Era ela.
Estava sentado numa
explanada de um café a saborear uma água e foi aí que a vi. Caminhava ao meu
encontro com um brilho qualquer nos seus olhos. Mas, quanto mais se aproximava,
a cada passo que dava, aquela chama que outrora tinha começava a apagar-se. Já fazia
muito tempo que não nos víamos. Notava algumas diferenças nas suas feições. A pele
estava mais clara, os olhos mais escuros e apresentava-se muito mais magra.
Sentou-se ao meu lado
com um “Olá” tímido e olhou-me. Ficamos em silêncio. Apetecia-me dizer-lhe um “amo-te”,
mas nada da minha garganta saiu. O silêncio ficou tão expeço que a respiração
tornava-se difícil e estranha. Baixei o olhar. Não conseguia suportar o seu
olhar inquisidor sobre mim. Olhei-a novamente.
- Como estás? – perguntou-me
ela.
Ela sempre falara em
poucas palavras. Achava-as desnecessárias. Sempre gostava do silêncio. Apesar de
pouco falar, no seu silêncio, na sua mente, corriam tantas palavras e
pensamentos. Sempre o soube, apesar de não lhe o dizer. Sabia que ela falava
com silêncio. Respondia-me com o silêncio e revelava o que tinha medo com o
silêncio. Eu apenas tinha de o saber ouvir.
- Bem. Olha para ti? Como
estás diferente! Quanto tempo não nos víamos? Estás bonita… Como sempre.
Tentei sorrir, mas
logo o meu sorriso desvaneceu-se passado pouco tempo. Ela demorou tempo a
responder. Parecia que formava mentalmente a resposta, no entanto, nada saía. Talvez
tivesse medo de responder. Via nos seus olhos um espírito conturbado e
apetecia-me dizer-lhe que eu estava ali. Mas nada disse. Aguardei, em silêncio,
até que ela respondesse às minhas questões. Neste silêncio, ouvia, a martelar,
o meu coração no meu peito.
- Não estou nada bem.
As suas palavras eram
secas. Fiquei espantado como seus lábios finos e avermelhados tinham proferido
tais palavras. No entanto, compreendia que ela não estava bem. Sofria em
silêncio e eu sentia-o. Nesta situação, ninguém tinha culpa. Separarmo-nos
porque o Destino assim o quis. Não sabia o que responder, por isso concordei com
ela. – Eu sei.
- Sabes? Tu não
entendes!
- Pois não. conta-me.
Arrisquei. Tentei arrancar
a ferros uma explicação do que ela sentia nesta ausência. O tempo tornou-a fria
e insensível. Nunca consegui entender o que o seu coração sentia. Era impenetrável
e frio. Disse-lhe, contudo, várias vezes que a amava. Nunca obtive resposta. Certas
vezes, estive perto de lhe perguntar se me amava, porém o medo acobardou-me.
Retirado destas
divagações, apareceu um empregado e perguntou-lhe se desejava tomar algo. Não queria
nada. Assim, o curvado empregado, desapareceu e deixou-nos. Ela continuou.
- Desculpa. Preciso de
ti.
Vindo do nada, sem
que eu esperasse, um pedido de desculpa sincero foi dito por ela. Sabia,
contudo, que na sua cabeça várias ideias explodiam. Era tímida. Sempre gostei
ver isso nela. A sua timidez seduzia-me. Novamente o silêncio abafava o ar e
selava os nossos lábios. Não sabia o que dizer-lhe. Tantas dúvidas. Tantas perguntas.
Tanto tempo longe um do outro e agora o acaso encarregou-se de nos juntar. O que
faço? O que respondo?
- Passou muito tempo.
– comecei eu.
Ela concordou.
- Apaguei-te. Desculpa.
Levantei-me e deixei
umas moedas em cima da mesa de metal para pagar a água. Ela continuava, em
silêncio, a olhar-me. O seu olhar confuso perguntava-me o que se passava. Eu continuava
em silêncio. Notava as suas mãos a tremer sobre a sua saia. Arrastei a cadeira.
- Já não me amas? –
perguntou ela, quase soluçando.
- Desculpa. Tudo agora
é tarde. Acabou.
Virei costas e fui
embora. Olhei-a. Ela olhava-me enquanto eu caminhava. Virei a cara. Umas lágrimas
surgiram dos meus olhos. Não sabia o que fazia. Sabia apenas que a ia perder
para sempre. Não a amo?
Olhei-a. Ela continuava
hirta e serena, a observar-me. Não brotava lágrimas dos seus olhos, no entanto
eu sabia que ela chorava, no seu silêncio.
Sem comentários:
Enviar um comentário