Ah, a chuva. A chuva
bate na janela do meu quarto em sonolentas gotículas perturbadoras. Ouço o
vento lá fora com seus gemidos secos a rezarem os seus Fados. E olho pela
janela, a imagem tímida da noite escura da cidade. Ao contemplar tal perfeição,
os meus pensamentos voam ardentes como pássaros ao encontro das dúvidas que
tanta teimosia possuem. Coisas passadas voltam à minha cabeça. Palavras nunca
ditas ecoam nos meus ouvidos. Imagens apagadas esfumam-se em meus olhos. E ouço,
ouço a chuva suave a cair sem impedimento.
Amo a chuva. Essa maravilha
formada pelas gotas que escorregam, suaves e cristalinas, na janela pequena que
suporta a minha cansada face, cria-me saudades da gosto agridoce dos teus
lábios molhados. Revejo em cada barulho rítmico da água caída o teu rosto.
Sempre amei a chuva. Revejo
nela toda a tua imagem em meus pensamentos dispersos. Desejo loucamente e
novamente sentir os calafrios da chuva a escorrer pelo meu rosto cansado; quero
molhar-me na água fria que na ignota razão transborda meus lábios num sorriso
escondido e fugaz. Quero tudo isto e um pouco mais. Afinal, quero-te a ti.
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