Está frio. Tanto frio
que o ar gélido entranha-se nas minhas narinas e causa-me um desconforto
estranho no meu respirar. Casas, luzes e pessoas. E mais casas, luzes e
pessoas. É assim que a cidade respira esta noite tenebrosa e escura. Entre casas,
luzes e pessoas, uma névoa cinzenta paira neste ar triste e melancólico.
As conversas fugazes
fogem das pequenas bocas das pessoas que passam por mim e nem um olhar me
dirigem. Desconhecido entre os desconhecidos. Moribundo entre os moribundos. Fantasma
entre os fantasmas. Nada de mim pertençe a esta ordem da desordem que desconheço.
A vida assim fez que eu caminhasse noutras estradas…
Caminho agora, mas
sei que um dia o deixarei de o fazer. Todas as pedras da calçada conhecem o meu
caminho, todas as casas conhecem o meu rosto e todas as pessoas que outrora via
conhecem o meu nome. Mas tudo desapareceu. Mas onde está tudo agora? Para onde
foram todos? Bem o sei de sobra, um dia também deixarei de caminhar nos trilhos
que o destino me ofereceu e o fado amaldiçoou.
Estou cansado de
caminhar. Sinto as pernas a ceder a cada passo na negra estrada que as nuvens
apocalíticas iluminam. As estrelas que tanta curiosidade no meu espírito causa,
ocultas pelas nuvens estão. Já nada de concreto vejo. O cansaço impede-me de
querer andar. Nada. Nada. Nada. Realmente não quero nada nem continuar. Então porque
continuo? Porque minto-me a mim próprio?
Nem tudo o que vejo é
verdadeiro. As pessoas que outrora via desapareceram como pó que os meus pés
agora pisam, as casas foram destruídas como cinza e os caminhos apagados pelo sopro
da cobardia. Afinal, talvez nada passe de um sonho estúpido que nada mais é que
um sonho. Está frio… Caminho na icógnita estrada e não sei por onde vou. Apenas
sinto o frio gélido a embater na minha face. Mas porque razão queria saber por
onde vou, se sei que estou a caminhar?
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