Sempre me encontrei nos teus lábios. É difícil
dizer-te, mas ouve-me. É inteiramente verdade: sempre me encontrei nos teus
lábios. Morava recolhido nos nossos famintos e rebeldes beijos. Abrigado sobre
o teu sorriso e protegido pela leveza das tuas sussurrantes promessas que o
horizonte esquecera.
É verdade! Encontrava-me neles. Amava-os! E sei
quanto é errado amar os teus lábios. Aqueles carmesins e púrpura fios esticados
onde mora todo o meu desejo. O meu pecado. A minha gula. A minha tentação. Amo-os.
E mesmo que não acredites numa palavra que da minha boca é proferida, basta
ofereceres-me novamente os teus lábios como uma complementaridade da nossa
promessa. Do nosso sonho. Do nosso frágil e eterno abrigo de carícias. E acredita,
irias – em cada beijo – ser capaz de encontrar o sentido que queima a nossa
língua da saudade que é a nossa ausência.
Teus beijos são como memórias em que recrio o meu
passado, vivo o presente e aguardo o futuro sobre o conforto de ter-te ao meu
lado a aguardar, com suave paciência, a minha coragem que mora escondida no meu
peito. O horizonte nos espera. A secreta imagem de uma felicidade oculta nos
aguarda. Sinto-me desfeito em recordações. (Com receio de avançar. Mas não
tenho medo.) Estás comigo, sempre o soube! Convém notar que, quando me sinto
perdido, é em ti que me encontro. Encontro-me nos teus lábios que duram
eternamente. Sempre encontrei-me neles. Tu não?