sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Apocalipse


Abri os olhos.

Sentia uma escuridão amena,
Que meus olhos pasmaram.
Assim as ideias chocalharam,
Na minha cabeça que desaparecera.

Porém flutuava…
Entre a translúcida ficção.
Imagens no ar pairavam,
Sem nenhuma razão.

Frenético o coração batia,
Sem saber o medo esconder.
Todo o sangue sentia,
No ar a desvanecer.

Sozinho tentei gritar,
Mas nada da garganta saiu.
Apenas um suspiro mudo,
Naquele silêncio fugiu.

As lágrimas secaram,
Na beira da perdida ilusão.
Os horrores chegaram,
No seu manto de escuridão.

Cada vez mais desnorteado,
Comecei a espernear.
Por não ser amado,
E na escuridão estar a definhar.

Abri os olhos,
Para a realidade ficar.
Pois afinal,
Sempre estivera a sonhar.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014


O grande problema de esquecer alguém que se ama é que esse alguém aparece sempre nas coisas mais significativas da nossa vida. Surge nas palavras ditas no passado, nas imagens gravadas pela nossa memória e nas ausências prolongadas. A saudade dói, porque no fundo sabemos e temos medo de admitir que amamos esse alguém que infelizmente queremos esquecer. O amor é assim mesmo. Somos cobardes porque temos medo de falhar, de correr o risco do fracasso e da traição. No fundo, amar é um risco que tentamos, a todo custo ocultar pelas suas consequências. No entanto, vamos sempre amar, quer gostemos ou não, porque assim é o Homem. Ama o impossível e deseja o inatingível.
Este amor é impossível apagá-lo. Bem o sabemos. Está demasiado entranhado nas nossas veias e respira a harmonia das nossas promessas. Caminha na noite com os nossos pensamentos e emana a esperança dos nossos corpos por ansiarem novamente a presença um do outro. É impossível extinguir-se. A chama provocada pelo desejo sente uma insatisfação terrível pelas nossas carícias. Por isso, é impossível esquecer e apagar este amor. Todo ele é feito de sedução, saudade e promessa. E se a promessa fores tu, é por ti que aguardarei.
«Prometes?», perguntou ela  retirando-me das minhas reflexões. Fiquei em silêncio a observa-la. Nada disse. Adorava ver o seu cabelo a baloiçar ao sabor do vento, ver o seu sorriso vermelho em seus lábios e sentir a volúpia que os seus olhos claros me causavam. Sabia que não a podia ter. Por isso, nada disse. Novamente repetiu ao meu ouvido as palavras que estão guardadas no passado da minha memória. - «Prometes amar-me sempre, mesmo que te deixe?» - Nada respondi, mas no fundo disse-lhe com o meu silêncio - «Prometo».


 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014


Quem tem loucura nem sempre a mostra. É um acto profundamente normal para que as outras pessoas não nos achem desvairados. Todos somos normais até que a loucura atinja o nosso coração. Mas, devemos recordarmo-nos que a loucura é algo que está presente em todo o indivíduo. É uma regra como aquela em que a sempre tivemos, mas que com o tempo a vamos esquecer. Somos loucos! Quer gostemos ou não, todos temos os nossos momentos de loucura e não a podemos esconder para sempre. Somos loucos! Então porque escondemos essa loucura? Por  medo? Incerteza? Receio? Cobardia?
A loucura é o defeito mais sincero do Homem. Um Homem louco é uma criança eterna. Ama loucamente, beija apaixonadamente e vive a vida sem a preocupação do que possa acontecer. O depois vem, como diz, depois. Porque motivo nos preocupamos em demasia com coisas insignificantes? Temos de ser loucos, é a melhor vida. A vida de um louco é assim. A vida mais incrível que possamos conhecer e uma metáfora de felicidade. Quem, na sua loucura, não foi realmente feliz?
Sejamos loucos e nada mais. A regra para uma vida feliz é esta: temos de ser obrigatoriamente loucos! O pior erro é esconder essa loucura com o medo das represálias. A loucura vem do coração e do que vem do coração é puro. Então, porque motivo temos de ser todos iguais e negar a nossa loucura e diferença? Como tal, nada melhor que sermos loucos. Afinal, sempre o fomos.  
 
 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014


Estou a ver a noite. Aquela noite em que me enche de saudades tuas. Aquela mesma noite em que me segredaste que amavas a sua calma. Aquela noite que está tecida com as suas estrelas. Aquela noite com a sua lua imóvel onde me faz recordar a tua presença. Simplesmente, a noite.
Deitado estou a ver o crepúsculo que o meu olhar anseia. Nele, vejo a tua face desenhada com imensas estrelas brilhantes que depois desenho com a imaginação o teu sorriso e pinto os teus olhos com a minha saudade.
É curioso como nesta noite; uma noite tão normal como as outras, penso em ti a todo o momento e tenho imensas saudades tuas. E talvez seja isso que apenas tenho: saudades.
Nesta noite silenciosa surge-me um desejo no peito à muito esquecido. A noite está bela e perfeita. Ouviste? Está bela e perfeita. Como tu. E só um desejo tenho: ter-te a meu lado e mostrar a sua beleza.
Quero segredar-te aos ouvidos as mais belas e lindas promessas que te jurei. –  «Nunca te deixarei só». – Quero abraçar-te e nunca mais largar-te! Apenas porque tenho saudades. Aquelas saudades que o meu coração todas as noites chama pelo teu nome. Preciso de ti nesta noite que aprecio. Preciso, porque uma noite sem ti é uma solidão e contigo a meu lado não preciso de mais nada na vida. Quero-te apenas. Como não querer-te, se só em ti a beleza mora?
 
 



 
 
 
 
 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

«Começou numa manhã de Verão»


«Começou numa manhã de Verão», segredou-me ela. Estávamos os dois a contemplar a maresia que batia nas rochas. O suave barulho das ondas enchiam o vento ligeiro que soprava nas nossas faces. O calor queimava os nossos braços, mas não nos incomodava. A maresia suave que vinha da praia causava aquela sensação agradável do calor do sol e o frio do vento.
Olhei-a e sorri. Os seus olhos azuis observavam as crianças que jogavam à bola na beira mar. Tinha um cabelo castanho a fugir para o loiro que lhe caía pelas suas nuas costas. Mexia os seus delicados pés na areia escaldante da praia.
Ficamos os dois em silêncio a observar um barco que flutuava nas ondas azuis do mar. Atrás de nós ouvíamos umas pessoas a explicar como tinha morrido por um cancro no esófago um familiar próximo. Umas gaivotas sobrevoavam as rochas, talvez na procura de moluscos ou de restos de peixes. Bebi, com o barulho, o sumo de laranja que estava na garrafa ao meu lado direito.
«Começou numa manhã de Verão», segredou-me a segunda vez quando se encostou ao meu ouvido. Nada acrescentei. Eu estava ali para ouvi-la e já fazia cinco anos que não nos víamos. Cinco longos anos em que as vidas nos separaram. Agora olhou-me e sorriu um amargo sorriso.
- Porque foste embora?
Ela disse apenas isto, mas a sua vontade era abraçá-lo e dizer que o amava. Às vezes, é necessário ouvir da outra pessoa o que ela não diz.
- Não tive opção. Que fazia aqui?
- Tu não me amavas.
Eu nada respondi. Não tinha coragem para lhe dizer fosse o que fosse. Sei que tinha aberto muitas feridas no seu coração e que nada podia fazer para as sarar. O tempo faz esquecer as feridas, mas não as fecha. Fiquei algum tempo a ver o seu cabelo deitado sobre o seu peito.
- Eu amava-te, mas não te podia ter.
- Deixaste-me durante cinco anos e agora apareces?
Ela não chorava. O tempo tornava-a fria e insensível. O seu olhar penetrante incomodava-me e eu fui obrigado a desvia-lo e ficar a contemplar a paisagem que o meu olhar pintava. Tentava assim ganhar coragem, mas apenas escondidas lágrimas surgiram.
- Compreendi que naquele tempo não te podia ter. Era jovem e imprudente.
Ficamos novamente em silêncio com os olhares fundidos na natureza do mar. as palavras falhavam e as mágoas subiam do esquecimento. Nem eu, nem ela tínhamos ousadia de dizer algo. Estávamos os dois com saudades um do outro, mas recusava-nos a aceitar tal facto.
Olhei-a naqueles olhos claros perdidos. A angústia brotava do meu peito e uma saudade tocava o meu coração. Encostei os meus lábios ao seu ouvido e disse-lhe:
- Desculpa.
Desviei-me e fiquei na expectativa a observá-la. Ela continuava distraída com o seu olhar atento sobre a criançada alegre que brincava com a areia. Ficou assim algum tempo imóvel. Bebi novamente um pouco de sumo. No fim ela olhou-me e ficou naquele fio invisível que só o olhar cria a ver-me. Abraçou-me e disse ao ouvido:
- Como disse, “Começou numa manhã de Verão”, e vai começar mesmo. Estás perdoado. Amo-te tanto.
Beijou-me e eu compreendia o que significava aquele beijo. O amor é assim: deve surgir de um beijo e num olhar carregado de confiança.
«Amo-te também», revelei eu e ficamos assim abraçados naquela manhã de Verão esperando que a noite chegasse.
 
 
 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O teu sorriso. Um mistério indecifrável de sentimentos que eu nunca descobri com toda a certeza e que me cria uma saudade no meu peito cada dia que passa. O teu olhar. Uma lua cheia que ilumina todas as minhas solidões que me cerco e me recuso a falar com alguém. As tuas palavras. Aquele inferno amaldiçoado que o meu coração ama ouvir. Os teus silêncios. Aquele veneno delicado que me corrói por dentro de culpas imaginárias. O teu rosto. Aquela pintura inacabada que só fica completa com o meu sorriso. Os teus lábios. Aquela fonte de prazer que só ficará consumada com um beijo meu. O teu abraço perdido que completo no meu está. A noite escura e silenciosa que sozinho me deixa mas que só pra nós os dois foi criada. Ainda não te disse e tenho algo pra te contar, mas por muito medo e receio que tenho, ouve. Estou a chamar-te. Vou sussurrar-te ao ouvido. Ouves? Eu sei que talvez seja estúpido e eu esteja tolo. Estás a ouvir? Não disse que te amava, mas foi como dissesse. Ouviste? Eu amo-te. Queres que repita ao teu ouvido? Eu amo-te. Aquelas palavras que te disse tantas vezes mas tu não percebeste. Ouviste? Eu amo-te. Anda. Queres que te beije? Amo-te. Queres que te abrace para sempre e nunca mais te largue? Eu amo-te! Do que estás à espera para me ouvires?
 
 
 





 

sábado, 15 de fevereiro de 2014


Havia alturas em que me importava, agora nem quero saber se respiras ou se continuas a viver. Passaste. Eu falhei e aceito o meu erro. Mas acima de tudo, desisti. Desisti porque ninguém pode jamais amar um erro como eu. Quem quer um fiasco que é um fracasso?
Doravante, talvez seja uma acção precipitada, mas a insensibilidade e a indiferença irão fazer parte das minhas atitudes e palavras. Se não te preocupas nem queres saber de mim; Porque motivo irei preocupar-me contigo? Não é que não seja amor, mas amar sozinho cansa e estou farto de lutar por algo que nunca poderá acontecer. Desisti.
Chega de querer uma pessoa que não me quer. A vida ensinou-me que a maior prova não são as palavras, mas as atitudes. E estou farto de promessas que nunca se vão cumprir. Talvez a distância maior ainda que vou ter, seja benéfico para mim. O tempo cura tudo e, quem sabe, apague tudo o que uma vez amei. Falhei e ninguém quer um falhado e desisti porque não posso ser amado.
 
 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Brinca, brinca criança contente

Brinca, brinca criança contente,
A bater com as mãos na água do rio corrida.
Julgando que talvez aumente,
A alegria da inocente vida.

Ao ver-te relembro com tristeza,
A alegria oculta do passado.
Onde este ser de frieza,
Era feliz e amado.

O teu olhar quente e acolhedor,
Cheio de sonhos e utopias futuras.
Recorda-me o meu ser sonhador,
Que se moldou em proibidas securas.

Sento-me no banco abandonado,
A observar a criança com a vida a brincar.
Sentindo o tédio pesado,
No meu corpo a se abrigar.
 
 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Fama do Sonho Tardio

Por tal glória,
O corpo lutou.
Mas apenas descobriu,
Uma ilusão que chorou.

Memórias fictícias,
De um tardio amanhecer.
Lágrimas sentidas,
De um corpo a desvanecer.

Incógnita descoberta,
De vidas relembradas.
Assim o Homem caí,
Nas ânsias amadas.

Por mais que lute,
Por sonhos tardios.
A Realidade sucumbe,
Nos destinos sadios.

Tudo é tarde,
No cedo demais.
Porque tudo o que o Homem sonha,
É vã glória dos mortais…