quarta-feira, 21 de maio de 2014

Toquei nela como se ela fosse feita de sonhos e de filamentos de uma ilusão esquecida. O seu cabelo escuro perfumado tocava nos meus lábios secos enquanto lhe oferecia beijos lentos e apaixonados. Ela desenhava-me círculos imaginários e perdidos no meu peito. Eu sussurrava-lhe ao ouvido, entre os intervalos dos beijos, promessas sonhadoras que perdiam todo o significado naquele silêncio das palavras.
- Beija-me. – disse-me ela baixinho, a medo.
Coloquei-a sobre o meu corpo.
Abracei-a. Senti novamente o aroma do seu perfume suave a fugir das suas roupas. Olhei para os pequenos lábios finos, desenhados num carmesim suave, com um sorriso tímido e provocador.
A casa estava completamente silenciosa. Apenas estávamos nós os dois. Deitados na cama, desejosos de conhecer o sabor dos nossos corpos e o silêncio dos nossos lábios. O tempo fugia entre os dedos das nossas mãos famintas em conhecer cada linha ondulada das costas suadas de ambos.
Beijei-a.
Cada segundo fechou-se naquele sonho que tornou-se realidade. Esqueci-me de tudo e do tempo que passava lá fora e concentrei a poesia da doçura de um beijo. A prosa de um abraço. E a palavra do amor partilhado.
Nada melhor que isto.
Mandei foder tudo o resto que me incomodava.
E viva a poesia do beijo e o sabor do seu corpo!




quarta-feira, 14 de maio de 2014

Pior do que esquecer, é querer esquecer. E pior do que querer esquecer, é não conseguir esquecer. Porque o esquecimento é como uma memória longínqua ou um eco perdido. Retorna sempre à sua origem. Às vezes, preferia viver com amnésia. Porque nada se esquece, nem mesmo a dor e o sofrimento. Nada se esquece. Mesmo que a solidão seja a nossa companhia. Porque as memórias são como pesadelos de criança e a saudade nunca nos larga. Estamos condenados a viver com as memórias e a recordá-las para sempre. Nem que, por vezes, elas não signifiquem nada. Porque: Pior do que esquecer, é querer esquecer. E pior do que querer esquecer, é não conseguir esquecer.









terça-feira, 13 de maio de 2014



A morte nem sempre é uma partida. A morte nem sempre é algo que acontece inexplicavelmente. A morte nem sempre um acontecimento repentino que nada podemos fazer. A morte é a velhice das coisas. É isso. A morte acontece quando envelhecemos a cada dia. A morte é a recusa. A morte é o medo. A morte é a cobardia. A morte é a solidão. A morte é seguir o mesmo caminho todos os dias e ver o sol a nascer todas as manhãs. A morte é o desespero que sentimos ao acordar a correr nas veias porque tudo se tornou uma rotina. Isto é a morte. E a velhice.
Morremos cada vez que envelhecemos. E envelhecemos quando todos os dias não dizemos uma palavra a quem amamos, quando não quebramos as regras, quando não falamos com um desconhecido ou quando não cumprimentamos os nossos inimigos. Envelhecemos quando o medo apodera-se das nossas acções e não beijamos quem devíamos ou quando não dá-mos mais do que podemos às pessoas que o pedem. O pior da morte é isto: envelhecemos a cada dia e nada podemos fazer.
A morte nem sempre acontece no final da vida. Cada dia a morte toma conta do que somos e esmaga-nos como míseros seres frágeis. Todos os dias morremos sem que nos demos conta, mas para remediar esta situação penosa uma solução torna-se imperativa. Cada dia é único. Ame-o como quem ama com amor. Beije a vida com beijos doces e arrisque até onde a coragem permite. E a morte passará, como uma mera ilusão onde o medo desapareceu e o sonho surgiu. A morte nada mais é que uma ilusão. Onde outrora era medo agora é visto como um caminho novo. E ainda temos tanto para andar…







segunda-feira, 12 de maio de 2014


Sempre foi difícil esquecer-te. A cada momento recordo o teu sorriso perdido na ilusão, das palavras esquecidas na memória e das promessas ultrapassadas pelas mentiras. Na noite longa do silêncio, nos meus pensamentos, contemplo o céu tecido de estrelas e relembro-me de cada traço do teu rosto que eu antigamente desenhava com o meu olhar. Eras tu. Somente tu que eu desejava, mas tudo acabou naquela estupidez. Naquele silêncio. Naquela mentira.

Nunca saberei o sabor dos teus lábios. Se são secos. Se são salgados. Se são molhados. Nunca o saberei. Falhei em tudo e perdi todas as oportunidades para ser feliz. O meu pior erro sempre foi esse: não fui um homem feliz. Neguei tudo e desperdicei toda a sorte que tinha. Agora, tudo é passageiro e as pessoas supérfluas. Nada me contenta. Tudo parece demasiado distante. Vagueio sem rumo na certeza da minha estupidez. Nunca poderei ser amado. Este é o meu destino.
Não sei que horas são enquanto estas palavras são desenhadas na folha. Apenas as lágrimas solitárias escorregam sobre a minha face. Não as limpo. Seria um erro. Deixo que cada lágrima escreva o seu ponto no teu nome. Que sele na escuridão e que encerre na solidão da morte, porque tu para mim morreste; e esta é a minha ultima lágrima. E despedida.