segunda-feira, 3 de março de 2014


Encontrei-a por mero acaso. Perdido nos meus pensamentos, caminhava com os olhos pelas montras das lojas e pelas pessoas que vagueavam frenéticas no horizonte do meu olhar. Foi aí. Via-a. O meu olhar tocou no seu e reconheci-a. Era ela. Sem tirar nem por. Era ela.
Estava sentado numa explanada de um café a saborear uma água e foi aí que a vi. Caminhava ao meu encontro com um brilho qualquer nos seus olhos. Mas, quanto mais se aproximava, a cada passo que dava, aquela chama que outrora tinha começava a apagar-se. Já fazia muito tempo que não nos víamos. Notava algumas diferenças nas suas feições. A pele estava mais clara, os olhos mais escuros e apresentava-se muito mais magra.
Sentou-se ao meu lado com um “Olá” tímido e olhou-me. Ficamos em silêncio. Apetecia-me dizer-lhe um “amo-te”, mas nada da minha garganta saiu. O silêncio ficou tão expeço que a respiração tornava-se difícil e estranha. Baixei o olhar. Não conseguia suportar o seu olhar inquisidor sobre mim. Olhei-a novamente.
- Como estás? – perguntou-me ela.
Ela sempre falara em poucas palavras. Achava-as desnecessárias. Sempre gostava do silêncio. Apesar de pouco falar, no seu silêncio, na sua mente, corriam tantas palavras e pensamentos. Sempre o soube, apesar de não lhe o dizer. Sabia que ela falava com silêncio. Respondia-me com o silêncio e revelava o que tinha medo com o silêncio. Eu apenas tinha de o saber ouvir.
- Bem. Olha para ti? Como estás diferente! Quanto tempo não nos víamos? Estás bonita… Como sempre.
Tentei sorrir, mas logo o meu sorriso desvaneceu-se passado pouco tempo. Ela demorou tempo a responder. Parecia que formava mentalmente a resposta, no entanto, nada saía. Talvez tivesse medo de responder. Via nos seus olhos um espírito conturbado e apetecia-me dizer-lhe que eu estava ali. Mas nada disse. Aguardei, em silêncio, até que ela respondesse às minhas questões. Neste silêncio, ouvia, a martelar, o meu coração no meu peito.
- Não estou nada bem.
As suas palavras eram secas. Fiquei espantado como seus lábios finos e avermelhados tinham proferido tais palavras. No entanto, compreendia que ela não estava bem. Sofria em silêncio e eu sentia-o. Nesta situação, ninguém tinha culpa. Separarmo-nos porque o Destino assim o quis. Não sabia o que responder, por isso concordei com ela. – Eu sei.
- Sabes? Tu não entendes!
- Pois não. conta-me.
Arrisquei. Tentei arrancar a ferros uma explicação do que ela sentia nesta ausência. O tempo tornou-a fria e insensível. Nunca consegui entender o que o seu coração sentia. Era impenetrável e frio. Disse-lhe, contudo, várias vezes que a amava. Nunca obtive resposta. Certas vezes, estive perto de lhe perguntar se me amava, porém o medo acobardou-me.
Retirado destas divagações, apareceu um empregado e perguntou-lhe se desejava tomar algo. Não queria nada. Assim, o curvado empregado, desapareceu e deixou-nos. Ela continuou.
- Desculpa. Preciso de ti.
Vindo do nada, sem que eu esperasse, um pedido de desculpa sincero foi dito por ela. Sabia, contudo, que na sua cabeça várias ideias explodiam. Era tímida. Sempre gostei ver isso nela. A sua timidez seduzia-me. Novamente o silêncio abafava o ar e selava os nossos lábios. Não sabia o que dizer-lhe. Tantas dúvidas. Tantas perguntas. Tanto tempo longe um do outro e agora o acaso encarregou-se de nos juntar. O que faço? O que respondo?
- Passou muito tempo. – comecei eu.
Ela concordou.
- Apaguei-te. Desculpa.
Levantei-me e deixei umas moedas em cima da mesa de metal para pagar a água. Ela continuava, em silêncio, a olhar-me. O seu olhar confuso perguntava-me o que se passava. Eu continuava em silêncio. Notava as suas mãos a tremer sobre a sua saia. Arrastei a cadeira.
- Já não me amas? – perguntou ela, quase soluçando.
- Desculpa. Tudo agora é tarde. Acabou.
Virei costas e fui embora. Olhei-a. Ela olhava-me enquanto eu caminhava. Virei a cara. Umas lágrimas surgiram dos meus olhos. Não sabia o que fazia. Sabia apenas que a ia perder para sempre. Não a amo?
Olhei-a. Ela continuava hirta e serena, a observar-me. Não brotava lágrimas dos seus olhos, no entanto eu sabia que ela chorava, no seu silêncio.
 
 

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