quinta-feira, 27 de março de 2014


Lembro-me dos seus cabelos escuros  a voar enquanto o vento soprava ligeiro sobre um sol seco que ardia nos nossos braços. No entanto, continuávamos abraçados um no outro com um medo que nos perdêssemos, ou que eu ou ela nunca mais nos víssemos. Eu passeava com os dedos nas linhas dos seus cabelos a desenhar todo o carinho que sentia por ela. Ela fazia carícias na minha face e nos meus lábios secos e sorria.
-  Amas-me? – perguntou ela ao meu ouvido.
Abracei-a com mais força. Notei uma lágrima em seus olhos. Deixei-a chorar. Não sabia porque motivo, mas deixei-a chorar. De seguida, limpei com os meus dedos a lágrima solitária que fugia na sua face.
- Porque choras? – perguntei eu.
- É este silêncio… este… não me dizes nada… o que significa isto tudo?... de… de que tens medo?  - ficou em silêncio. Não chorava, mas eu sabia que no seu silêncio, lágrimas incorpóreas formavam no seu coração despedaçado.
Ficamos os dois em silêncio.
Eu não sabia o que responder. Ela tinha razão: «eu tinha medo». Qualquer compromisso demonstrava-se um bicho de sete cabeças. Eu amava-a. Só que tinha medo de lhe dizer. Talvez a minha atitude se demonstre um pouco infantil e estúpida. Mas era um facto, eu tinha medo. Tinha medo do fracasso, da traição, que o amor morresse. Tinha acima de tudo medo que ela não me amasse. Tinha medo.
- Queria dizer tantas coisas. Tantas palavras….
Ficamos novamente em silêncio.
Beijou-me.
- Eu amo-te, entendes? – revelou-me ela.
No silêncio, o meu coração batia como uma bomba relógio, olhava para os seus lábios finos que mais pareciam desenhados suavemente num carmesim ligeiro. Sorri nervosamente. Ela olhava-me.
- Estás à espera de quê?
Beijei-a. O medo não podia acobardar-me de amar quem mais eu queria. Ela merecia uma resposta. E teve-a.
- Amo-te também.
Beijei-a novamente.
 
 

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